quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Férias forçadas

Há muito que não ponho aqui qualquer postagem, mas também há meses que não faço facas.
Não porque não me apeteça terrivelmente acender a forja e dar asas à imaginação ao som da musica do martelo, mas uma irritante e persistente lesão no cotovelo tem-me obrigado a estar parado.
Há quem lhe chame “Tendinite”, “Cotovelo de tenista”, ou como lhe chama o médico “Epicondilite lateral”. Cá para mim é uma “m**da de uma dor de cotovelo lixada” que não me larga há mais de 6 meses e não me deixa fazer o que mais gosto.
Para quem como eu passa horas agarrado á forja e ao martelo , aqui vai a cópia de um artigo que encontrei na net sobre o assunto.
Previnam-se companheiros, usem uma cotoveleira elástica quando estiverem a forjar , não abusem do esforço e das horas contínuas a malhar aço. Se começarem a sentir algum sintoma de dor ataquem logo com gelo o cotovelo, reumon gel ou outra pomada anti-inflamatória e abrandem o ritmo. Mais vale parar uns dias e tratar logo disso antes que piore, que deixar andar como eu armado em campeão sem ligar á dorzita que apareceu e agora estar há mais de 6 meses sem quase poder levar um copo de agua á boca , quanto mais pegar num martelo ou até numa lima.




Cotovelo de tenista
O cotovelo de tenista (tennis elbow), conhecida tecnicamente como epicondilite do cotovelo, é uma inflamação no local de origem dos tendões da musculatura do antebraço, causada por microrupturas dos tendões junto á sua inserção no osso.
Esta lesão é a mais comum síndrome de stress do cotovelo

Um estudo recente americano conclui que existem cerca de 20 milhões de tenistas nos EUA e estimou que mais de 6O% desenvolveram a epicondilite em algum momento da sua actividade desportiva.
Apesar da denominação comum da lesão estar relacionada com o desporto, estas inflamações são uma doença profissional a que estão sujeitos pintores, carpinteiros, músicos, trabalhadores de linhas de produção e particularmente os ferreiros pela violência , esforço repetitivo e vibrações a que são sujeitos os tendões e musculatura dos antebraços no acto de forjar.
O principal sintoma é uma forte dor altamente incapacitante e localizada no lado de fora do cotovelo, por vezes com irradiação para o antebraço, sem qualquer sinal de hematoma.
Pode ter um aparecimento súbito decorrente de um esforço ou pode aparecer durante certos movimentos de uma forma leve mas que vai piorando progressivamente, podendo irradiar para o antebraço, punho e mão até ao ponto em que o individuo deixa de conseguir realizar as suas actividades habituais do dia a dia, por mais simples e leves que sejam. Algumas queixas são características, como sentir uma dor forte no cotovelo durante um aperto de mãos, ao segurar num copo, o movimento de abrir ou fechar uma porta, o simples acto de apertar um botão da camisa e começando a sentir uma nítida perda de força na mão originada pela dor.
O tratamento é efectuado através da paragem obrigatória da actividade, do repouso total, o uso de gelo por períodos de 20 minutos duas a três vezes ao dia, medicação anti inflamatória e fisioterapia . Em alguns casos de persistência dos sintomas, a lesão só pode ser resolvida com cirurgia, geralmente indicada quando o quadro persiste por um período superior a 6 meses sem qualquer resposta ao tratamento conservador.
A epicondilite na sua grande maioria melhora com o tratamento conservador, apesar de ser um processo muito lento, gradativo e que durante o período de tratamento ocasionará muitas limitações e dificuldades na actividade laboral. 0 tempo médio da recuperação situa-se entre 3 meses e um ano, podendo a lesão reincidir a todo o momento no retorno á actividade , que deve ser muito lento e gradual, tentando evitar qualquer tipo de exagero.
Não existe qualquer tipo de prevenção possível ao aparecimento da lesão, apenas o uso de cintas de apoio na zona do cotovelo e antebraço, normalmente chamadas cotoveleiras, durante o esforço, podem ajudar a prevenção, assim como o cuidado em evitar exageros de esforço intercalando períodos de descanso no esforço repetitivo. Os cabos de martelo finos, ou seja de pequeno diâmetro, obrigam a uma pega que força mais os tendões dos antebraços também contribuindo para o problema, assim como a altura a que temos a bigorna. Esta deve estar sempre a uma altura que permita bater com o braço quase esticado; assim , no momento da pancada, temos os músculos do antebraço alongados reduzindo as hipóteses de lesão por contracção, e aproveitamos ao máximo a inércia do próprio peso do martelo reduzindo muito o esforço necessário.
Fonte: Net, Soc. Port. Traumatologia


Cuidem-se,
BULL

terça-feira, 22 de maio de 2007

TRADIÇÃO


Esta é uma faca na linha das facas que sempre se usaram num ritual que faz parte e está bem enraizado na tradição secular Portuguesa. Desde sempre a chamada "matança do porco" no nosso meio rural , culmina meses de trabalho no tratamento e engorda do porco, que no dia escolhido é morto, desmanchado, a carne cortada e preparada, tirada a banha, preparado o toucinho, o presunto , os enchidos , chouriços, morcelas, etc. , nada é desperdiçado, e que embora seja uma jornada de trabalho duro , é praticamente uma festa que reune toda a familia, homens e mulheres, novos e velhos alem dos vizinhos e amigos convidados onde todos trabalham desde o nascer do sol sem descanso, comem , bebem daquele vinho que ainda é feito de uva e não se encontra no supermercado, e só acaba muitas vezes madrugada dentro ou no dia a seguir.

São usados vários tipos de facas: Este tipo de faca para matar o animal, as tipo skinner para esfolar, facas para cortar a carne e desossar, e normalmente outras mais pequenas com que se miga a carne para fazer os enchidos.

É uma faca longa, 330mm de comprimento total com 220mm de lâmina, relativamente estreita , 20mm de largura e 5mm de espessura junto á empunhadura , começando logo aí a estreitar até á ponta extremamente afiada. Por tradição tem um sangrador de cada lado da lamina , embora eu pessoalmente seja de opinião que acaba por ser mais um elemento estetico que funcional. A empunhadura em madeira é generosa de modo que a faca possa ser pegada com firmeza para guiar a lamina certeira na estocada. O aço é como sempre aço carbono temperado e revenido para dar flexibilidade á lamina.

domingo, 20 de maio de 2007

MOTAS

Todos nós temos sempre mais que uma paixão.


Uma das minhas outras paixões são as motas; conduzir uma mota, sentir o vento na cara, sentir a sensação de liberdade que ela nos proporciona , mas acima de tudo construi-la. Idealizar a mota que gostariamos de ter, pôr mãos á obra e cria-la, vê-la crescer nas nossas mãos , ao nosso gosto e medida.
Esta é uma das várias que construi, já há uns tempos, mas que gosto muito. O motor é um monocilindrico de 800cc, de uma DRbig, nasceu para o todo o terreno e acabou numa custom musculada. O restante da mota , quadro incluido , nasceu no meio das facas, nos intervalos .....

quinta-feira, 17 de maio de 2007

4 FACAS UTILITÁRIAS


Estas 4 facas são em aço carbono mas desta vez feitas a partir de uma mola helicoidal da suspensão de um Volkswagen Passat.

São facas com o comprimento total entre os 200 e os 220mm e com empunhaduras todas da mesma madeira. Os pinos são inox e as guardas em bronze.

terça-feira, 1 de maio de 2007

FACA UTILITARIA




Por vezes, ao planear e fabricar uma faca, temos de olhar para ela como uma ferramenta pura e simples e tem de ser feita tendo como objectivo específico uma determinada função a executar.


Esta faca destina-se a cortar placas de material duro, pelo que tem uma empunhadura grande, ergonomica e por isso confortavel, e uma lamina muito simples e curta, mas extremamente dura e forte, em aço carbono.


A empunhadura é em madeira, a guarda em bronze e tem de comprimento total 170mm. A lâmina tem 50mm de comprimento, 27 de largura e 4mm de espessura.


Tive especial cuidado no forjamento e no tratamento térmico da lâmina pois interessava tirar do aço a maior dureza possível sem o tornar frágil ou quebradiço, o que consegui com uma tempera selectiva muito cuidada e dois ciclos de revenimento muito bem controlados.

segunda-feira, 23 de abril de 2007

2 HUNTER QUASE GEMEAS

Apeteceu-me fazer duas facas do mesmo tipo e com as mesmas dimensões, ambas forjadas a partir de 2 limas iguais com mais de 30 anos, apenas com diferenças subtis possívelmente só encontradas num primeiro olhar por quem seja observador, mas que as tornam muito diferentes uma da outra.

Foto das duas irmãs


Uma,

E a outra......

As diferenças principais estão no desenho e espessura das empunhaduras, o hollow, as guardas e o dorso das laminas.
São como sempre em aço carbono, tempera selectiva, blosters em latão e empunhadura em madeira, pinos em inox.
Têm comprimento total de 230mm, lamina com 120mm e 3mm de espessura. São exactamente iguais nas dimensões como já referi, embora possam não parecer pelos diferentes angulos das fotos.





quinta-feira, 19 de abril de 2007

SKINER


















Faca de trabalho de aço carbono, full tang, forjada a partir de uma lima.
Comprimento total de 220mm.
Lâmina com 115 mm de comprimento,
35mm de largura e 4mm de espessura.

Tempera selectiva e acabamento acetinado.
Empunhadura em madeira.
Pinos de fixação em inox.
Baínha de couro escurecido.

sábado, 14 de abril de 2007

FACA TANTO


Esta é uma faca com o desenho das tradicionais facas Japonesas, a faca Tanto, forjada em aço carbono a partir de uma lima antiga.

Tempera selectiva em óleo e revenida duas vezes para encontrar a flexibilidade e dureza ideais.

Comprimento total 310 mm. Lâmina com 175 mm de comprimento, 30 mm de largura na zona do ricasso e 4 mm de espessura.

O cabo é em couro com espaçadores de latão e aço.

A baínha é em madeira.

Espero que gostem tanto dela como eu.

terça-feira, 10 de abril de 2007

A OFICINA

É nesta pequena oficina, um alpendre coberto no quintal da minha casa, que as facas são feitas. Aqui as idealizo e desenho, recozo o aço, forjo, desbasto, lixo, tempero e faço o revenimento, faço os cabos, as baínhas... enfim , todo aquele sem numero de operações que acabam por fazer nascer uma faca.




A Forja a gaz , o "cubinho" de aço com 70 Kg que serve de bigorna , uma lixadora de cintas "home made", são algumas de várias ferramentas que tiveram de ser ser inventadas e nascer antes das facas .... Quem não tem cão , caça com gato!






segunda-feira, 9 de abril de 2007

A FACA DE FERREIRO




A mais pura e artesanal das facas , a FACA DE FERREIRO, ou, como os franceses lhe chamam " Brut de Forge ". O aço é forjado formando a lâmina e o cabo numa só peça e a faca sai da bigorna já com o desenho pensado pelo Ferreiro, sendo apenas temperada e afiada. Toda a textura superficial da faca, exactamente como foi forjada, com as marcas do martelo que a fez nascer, fica visivel. Sómente a zona do fio é trabalhada para dar a afiação á faca.





As marcas do martelo na superfície da faca



















quarta-feira, 28 de março de 2007

A FACA E O HOMEM

Uma faca não é uma arma.
Como qualquer objecto do nosso quotidiano somos nós que determinamos, do modo como o usamos, a sua função.
As facas são um instrumento de trabalho e um utensílio fundamental para o nosso dia a dia, descoberto e usado desde a pré-história pelo homem.
Foi o ser humano que na sua luta diária pela sobrevivência, ao tentar encontrar algo na natureza que o auxiliasse na sua necessidade de preparar os alimentos, procurou á sua volta e encontrou uma pedra partida e aguçada que manuseada com a destreza que o distinguia dos demais animais servia os seus propósitos. Daí a começar ele próprio a fabricar os seus instrumentos de corte a partir de pedras que lascava, foi a evolução lógica do ser pensante e inventivo de que descendemos. A faca servia para tudo o que precisava no dia a dia, desde cortar frutos e vegetais para se alimentar, cortar os ramos e as folhas das arvores e arbustos para construir os seus abrigos, a casca destes para usar como protecção ao seu próprio corpo, para transformar nas suas mão hábeis em utensílios para transportar os seus parcos haveres. Servia para o auxiliar na caça de que dependia em grande parte para a sua alimentação e sobrevivência, para esfolar os animais de que se alimentava para lhes aproveitar a pele, para cortar a carne destes , para trabalhar os ossos e a madeira para fabricar novos utensílios, e todo um sem numero de necessidades no seu dia a dia.
Quando mais tarde aprendeu a recolher os metais e a os usar, a faca acompanhou essa evolução começando a ser fabricada em metal, passando pelo bronze e chegando ao ferro, que graças á evolução se transformou em aço pela adição de carbono e de outros componentes que lhe conferiam novas propriedades como dureza, tenacidade, flexibilidade, elasticidade e resistência á corrosão.
Tudo isto foi possível porque a par da faca, o homem dominou o fogo e aprendeu a usa-lo em muito mais que o simples aquecimento e para cozinhar os alimentos.
Usou-o para transformar o ferro em aço, para o tornar dúctil para que o pudesse moldar, mas também aprendeu a usar o fogo para lhe conferir durezas e outras características antes inimagináveis de conseguir de modo a que as facas cobrissem e satisfizessem todas as suas necessidades.
Nasceram os ferreiros, os homens que usavam o fogo para transformar o metal em instrumentos úteis e fundamentais ao dia a dia da humanidade, os depositários dos segredos dos metais e das técnicas ancestrais para o trabalhar.
A imagem do ferreiro não pode ser dissociada da figura do ser humano que usando somente os conhecimentos adquiridos, a sua perícia e a sua força muscular, de martelo bem firme nas suas robustas mãos, dominando o poder do fogo na sua forja e transformando o ferro em instrumentos e utensílios fundamentais para a vida dos homens.
É esta tradição que alguns de nós não querem deixar perder nem cair no esquecimento. É o remar contra a maré e a industrialização desenfreada, é o procurar manter viva a tradição, é procurar regressar ás origens, á optimização do instrumento faca, no âmago em que ele nos serve, procurando conferir-lhes as características que verdadeiramente importam e que em nome da massificação industrial foram preteridas muitas vezes pela estética e pelo uso de materiais menos nobres e de fraca qualidade. È o regressar ao objecto único, criado unidade a unidade e diferente de todos os outros, com alma própria e 100% adaptado e fabricado para a função, com a máxima simplicidade e qualidade que a destreza e o conhecimento ancestral permitem.